Artigo, Cerveja e seus afins, Papo de bar

Para incentivar cervejeiros empreendedores

O artigo abaixo é antigo mas, continua sendo atual. É interessante saber sobre a saga da Cervejaria Samuel Adams, sendo contada pelo próprio responsável por ela e pela volta de todo um movimento cervejeiro nos Estados Unidos. Jim Koch é um pioneiro,  e passou pelos mesmos percalços que o cervejeiro brasileiro passa atualmente.

Incentivador e uma boa leitura para o fim de semana. Só faltava ter a cerveja em terras tupiniquins pra acompanhar… Inspire-se:

O filho do cervejeiro

Como um empresário bem-sucedido encontrou seu destino (Por Jim Koch)

Quando eu era adolescente, meu pai tentou de todas as maneiras me dissuadir da idéia de ser cervejeiro. Ele passara a vida trabalhando em cervejarias, mal ganhando o suficiente para viver, assim como, antes dele, meu avô e bisavô. Não queria que eu sequer me aproximasse de um tonel de cerveja.

Assim, fiz o que ele desejava. Tirei boas notas, estudei em Harvard e, em 1971, fiu admitido em um programa duplo de pós-graduação em direito e administração. No segundo ano do curso, tive uma espécie de visão. Nunca fiz nada senão estudar, pensei, e estou sendo pressionado a escolher uma carreira para o resto da vida. Isso é burrice. O futuro estava chegando muito mais cedo do que eu pretendia.

Decidi então, aos 24 anos, largar os estudos. É evidente que meus pais não aprovaram a idéia, mas eu sabia que não se pode esperar até os 65 anos para fazer o que se quer da vida. Arrumei as malas e fui para o Colorado como instrutor em um curso de montanhismo. O trabalho me agradava. Escalei montanhas por toda parte — dos penhascos perto de Seattle aos vulcões do México.

Nunca me arrependi por essa decisão. Creio que todos nós estaríamos muito melhor se, aos 20 e poucos anos, pudéssemos tirar uns cinco anos para resolver o que desejamos fazer pelo resto da vida. Do contrário, estaremos adotando as opções dos outros, e não as nossas.

Depois de três anos e meio como instrutor de alpinismo, estava preparado para voltar a estudar. Terminei meu curso em Harvard e consegui um ótimo emprego no Boston Consulting Group, uma firma de consultoria empresarial. Mas, ainda assim, depois de cinco anos ali, continuava a ter dúvidas. Será que é isso que quero estar fazendo aos 50 anos?

Lembrei-me de que meu pai, pouco antes, fazendo uma limpeza no sótão, encontrara antigas receitas de cerveja em papéis amarelados. “A cerveja de hoje é basicamente água com espuma”, dissera-me na ocasião. Concordei. Para quem não gostava de cerveja americana, produzida em massa, a opção eram as importadas, muitas vezes já velhas. Os americanos pagam muito por cerveja de qualidade inferior, pensei. Por que não fazer uma cerveja de boa qualidade para eles, nos Estados Unidos?

Resolvi largar o emprego e tornar-me cervejeiro. Quando comuniquei a decisão a meu pai, esperava que me abraçasse e ficasse emocionado, vendo reviver a tradição de família. Em vez disso, ele disse: “Jim, essa é a maior besteira que já ouvi na vida!”

Apesar de se opor, papai acabou me apoiando: foi o primeiro investidor da empresa, entrando com 40 mil dólares quando fundei a Boston Beer Company, em 1984. Empreguei cem mil dólares da minha poupança e consegui outros cem mil com amigos e parentes. Sair de meu escritório luxuoso para ser cervejeiro foi como praticar o alpinismo: empolgante, liberador e assustador. Todas as redes de segurança tinham desaparecido.

Uma vez fabricada a cerveja, enfrentei o maior obstáculo até então: levá-la às mãos dos consumidores. Todos os distribuidores diziam o mesmo: “Sua cerveja é cara demais; ninguém jamais ouviu falar de você.” Vi que tinha de criar uma nova categoria: a cerveja americana artesanal. Precisava de um nome que fosse ao mesmo tempo familiar e elegante, e assim chamei minha cerveja de Samuel Adams, em homenagem ao cervejeiro e patriota que ajudou a instigar a Festa do Chá em Boston.

Percebi que o único meio de espalhar a notícia era a venda direta. Enchi minha pasta de couro com cerveja e recipientes térmicos, vesti meu melhor terno e parti para uma ronda dos bares. A maioria dos proprietários achava que eu era da Receita Federal. Mas, quando abria a pasta, prestavam atenção. Depois que contei minha história ao primeiro sujeito — como eu decidi fundar aquela pequena fábrica de cerveja em Boston com a antiga receita de meu pai —, ele comentou: “Rapaz, gostei de sua história, mas não pensei que a cerveja fosse tão boa.” Que momento aquele!

Seis semanas depois, no Grande Festival da Cerveja Americana, a Samuel Adams Boston Lager conquistou o primeiro prêmio entre as cervejas americanas. O resto é fato conhecido. No fim das contas, eu estava destinado a ser cervejeiro.

Meu conselho aos jovens empresários é simples: a vida é muito longa, portanto não se apressem em tomar decisões. A vda não permite planejamentos a longo prazo.

Fonte: Revista Seleções, maio/2000

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