Terça-feira, fechamos “o lujinha” mais cedo e fomos para São Paulo, a convite da importadora Tarantino, para uma degustação de cervejas americanas que podem vir (ou não) para o Brasil. Com a presença do presidente da Brewers Association (Associação de Cervejarias Artesanais) norte-americana, fizemos o “árduo esforço” em demonstrar nosso prazer em degustar essas delícias.
Degustamos 32 cervejas, dos 54 rótulos que foram trazidos para o Brasil — alguns, eram somente duas ou três garrafas. E claro, tudo estava uma delícia: pra começar que ir ao Frangó é sempre um prazer. Bom, vamos às fotos e aos fatos e prepare-se porque tem muita informação:
Começamos a degustar pela indicação do Filé:
Da cervejaria de Michigan, Jolly Pumpkin Artisan Ales, a La Roja tem 7,2% ABV e é uma American Wild Ale ou ainda uma Sour Ale, que está disposta a leveduras selvagens, como a Bretanomyces — que por sinal, pelo que a gente vem ouvindo, é a nova onda do momento: cervejas ácidas, super parecidas com lambics mas não necessariamente que vêm da Bélgica. Voltando à La Roja: laranja-avermelhada, turva (sem filtragem) maturada na madeira, ácida, refrescante. De-li-ci-o-sa!
Uma das preferidas da noite, servida pelo Ademir (que me emprestou a caneta, pra eu anotar tudo!): Detour Double India Pale Ale. Com 9,5% ABV, ela é amarguíssima. Mas um amargo saborosíssimo, com um aroma super floral e final seco. São 4 tipos de lúpulo, que dão à cerveja um frescor absurdo. Da cervejaria Uinta, de Utah, é uma das receitas “fora de linha” deles, ou seja, uma das cervejas de viagens dos cervejeiros, sazonal, que eles chamam de Uinta Crooked Line. O mais legal: são orgânicas! Uma grata e deliciosa surpresa, sem contar que o rótulo é lindo! (Até o fim das degustações, continuou sendo uma das favoritas.)
Sierra Nevada é Sierra Nevada, né? De nome mais conhecido por estas bandas, nunca perca a oportunidade de tomá-las se caírem em suas mãos. Na conversa que tive com o Gilberto Tarantino, o responsável pelas cervejas americanas que temos hoje no mercado (tirando a Brooklyn), ele comentou que esta é bem difícil de vir para o Brasil. Por mais que haja um namoro de muito tempo, a cervejaria considera o nosso país muito burocrático (e tem razão, não é mesmo?).
Bem, vamos à cerveja: Torpedo. 7,2% ABV, uma IPA leve, bastante cítrica, redondinha. Com dry-hopping, a cerveja é marcante mas, logo se esvai da boca.
Calabaza Blanca: Mais uma da cervejaria Jolly Pumpkin Artisan Ales. Uma witbier, de 4,8%ABV, encorpada. Tem a laranja, tem o coentro e tem algo mais. Um cítrico mais forte, ácida, muitas especiarias. E melhor: maturou na madeira e não foi filtrada. Excepcional!
Moylan´s IPA: Da cervejaria Moylan´s, de Novato – Califórnia, a IPA, com 6,5% ABV, é mega amarga e deliciosa. Dourada-laranja, é mais seca: o sabor do lúpulo persiste por muito tempo na boca.
Nas mesas do Frangó, as cervejas a serem degustadas. Passando nas bandejas dos garçons, a famosa coxinha, bolinhas de provolone, frango assado, pastéis. De matar!
Voltando às degustações:
Lagunitas IPA: da cervejaria Lagunitas, de Petaluma-Califórnia. Com 6,2% ABV, esta IPA, feita com 43 tipos de lúpulos e 65 tipos de malte (UAU!), é claro que tem o lúpulo evidente (mas não com sabor extremo, muito amargo), tem aroma mais suave, cítrico, de grama cortada. O lúpulo “amarra” na língua e depois some, deixando o palato limpo. Nos pareceu que Gilberto tem uma certa preferência por ela, pois nos contou que certa vez, andando de bicicleta em São Francisco, parou com os amigos em um bar para tomá-la e lhe caiu tão bem, foi tão refrescante… Seria este um sinal de potencial importação? Só o tempo dirá… (A gente espera que sim porque vale a pena!)
Ballast Point Pale Ale: da cervejaria Ballast Point, de San Diego-CA, que tem peixes em todos os rótulos (isso porque os três donos, todos que começaram a fazer cerveja em casa, gostam tanto de pescar quanto de cerveja). A pale ale que tomamos tem 5% ABV e tinha um leve amargor bem característico do estilo (mas difícil de encontrar em muitas pale ales), muito saborosa, bem clarinha e azedinha. Depois, lendo no site, descobrimos que eles fazem a cerveja na mesma proposta de uma kölsch: tratam como pilsen, fermentam na temperatura de ale. Especial!
Red Ale: da cervejaria Odell (senti um certo entusiasmo com essa cerveja no recinto! E a gente gosta muito da proposta desta cervejaria.), de Fort Collins – Colorado. Com 6,5% ABV, vermelha, espuma grossa e avermelhada (a coisa mais linda!). Muito lupulada. Amarga, com pegada. Ótima cerveja!
Caldera IPA: da cervejaria artesanal Caldera, de Oregon, que decidiu produzir e enlatar suas cervejas (ao invés de engarrafar. Motivos: são 100% recicláveis, mais fáceis de carregar, não quebram, eliminam a luz na cerveja). Amarguíssima, com 6,1% ABV, essa American IPA tem os aromas de cítrico, floral mas, muito mais de grama. No paladar, esse sabor que sobressai. Seca, fica na boca. Clássica.
Dogfish Head Palo Santo: da Dogfish Head (essa vai ser difícil de encontrar por aqui, infelizmente), a barley wine, com 12% ABV é excepcional! Com o álcool evidente, o que prevalece é o gosto da madeira palo santo (lembra imburana, talvez…). Encorpada, grossa, com sabor de caramelo, baunilha. Essa foi dos deuses. Perfeita na sua proposta. AMAMOS!
XVII Anniversary Uinta: mais uma da cervejaria Uinta. Barley wine, 10% ABV. Produzida todos os anos, para comemorar o aniversário da cervejaria. Frutas secas, amêndoas, malte mas, mais do que tudo: lúpulo (como toda cerveja americana). Não aparenta ter a graduação alcoólica que tem, é leve e de uma cor linda de morrer!
Mais uma IPA (como eles adoram esse estilo…): Spiral Jetty IPA, da Epic Brewing, de Utah. São 5 tipos de lúpulo, sendo dois usados no dry hopping. Já sentiu o amargor? Então… Muito floral, muito cítrico. Aromática, saborosíssima. Fantástica!
Shipyard Chamberlain Pale Ale: da cervejaria do Maine, Shipyard, com 4,9% ABV, tem um sabor de doce de infância, que não conseguimos definir. Sabe aqueles doces de abóbora em pedaço? Algo assim, entre o doce e o aromático de algo extremamente bom. Difícil definir depois de tantas, mas deliciosa!
California Blond Ale: de Fortuna, Califórnia, cervejaria Eel River. American Blond Ale, com 5,6% ABV. As cervejas feitas por esta cervejaria são orgânicas. Muito perfumada, mais docinha, leve. Diferente, saborosíssima!
Buckbean Tule Duck Red Ale: Âmbar ale, da cervejaria Buckbean, do Reno (eles também explicam no site porquê escolheram trabalhar com latas. E a melhor das explicações: latas são aceitas onde garrafas são banidas). Com 6,2% ABV, é bem amarga, com corpo leve. Ai, ai… Tudo é bom!
Buckbean Original Orange Blossom: também da Buckbean, essa cerveja realmente tem aroma e sabor de flor de laranjeira. Total bolo de laranja. Bem refrescante, com 5,8% ABV, é uma american ambar completamente diferente de tudo que já havíamos provado. DELICIOSA!
Gente, tá dando pra perceber a perdição que foi essa degustação? BOM DEMAIS!
Shipyard Smashed Pumpkin: mais uma da Shipyard. Pumpkin Ale, com 9% ABV. Com gosto de casa de vó. Essa sim, doce de abóbora até o osso. Como é bom experimentar coisas diferentes… Muito boa! (E nunca diríamos que ela tem 9%!)
Tilted Smile: outra da linha das Crooked, da Uinta, também com um rótulo lindo de morrer! Feita com lúpulo Saaz e 100% malte pilsen. É uma imperial Pilsner, com 9% ABV, de-li-ci-o-sa, com baixa carbonatação. Você praticamente só sente o dulçor do malte, muito encorpado, muito gostoso!
Sierra Nevada Kellerweis: mais uma da cervejaria de Chico-Califórnia. Com 4,8% ABV, fermentada em tanques abertos (como na Bavária), pode-se perceber bastante o fermento. Grossa, bem saborosa. Uma weiss muito bem feita! Refrescante.
Buckbean Black Noddy: Schwarzbier da Buckbean, com 5,2% ABV. Bem mais encorpada do que o esperado, espessa, com sabor e aroma de café verde – azedinha.
Epic Pfeifferhorn Lager: da Epic Brewery. Com 5,3% ABV, com o adocicado do malte bem evidente, na medida. Saborosíssima. Levemente cítrica. Muito leve e refrescante.
Caldera Pale Ale: também da cervejaria Caldera, com 5,5% ABV, azedinha, leve, saborosa, lupulada na medida. O Marcelo gostou muito desta!
Odell IPA: da cervejaria Odell. Extremamente floral, com um lúpulo nada agressivo, 7% ABV, leve, fácil de tomar. Como já havíamos tomado tantas, já começamos a sentir aqueles gostos especiais: esta, tinha gosto de corte de grama às quintas-feiras! hihihih
90 Shilling Ale: mais uma da Odell (ô, cervejaria boa!). Lúpulo bem encorpado, só que suave, 5,3% ABV. Aroma de pano molhado. E não é que é bom?
Moylan´s Old Blarney Barley Wine: da Moylan´s. Barley wine com 10% ABV. Aroma e sabor de chocolate – apaixonante! Também tem um fundo de amendoim – bem diferente! Vermelha – completamente surpreendente! (Tomaria váárias. Mesmo sendo forte.)
Oro de Calabaza: mais uma maravilhosa da Jolly Pumpkin Artisan Ales. Biére de garde, Soeur, Strong Golden Ale (sim, com certeza ela é tudo isso!), com 8% ABV. Spicy, apimentada, azedinha, provavelmente graças ao fermento selvagem. Mais uma excepcional para a coleção desta instigante cervejaria!
Moylan´s Kilt Lifter Scotch Ale: ai, ai… Mais uma da Moylan´s. Esta “levantadora de saiotes” é uma Scotch Ale / Wee Heavy de responsa! Sabor e aroma de toffee, de bala, bem do estilo. Tem a espuma vermelha – é a coisa mais linda de se ver! Uma delícia de 8% ABV. Show de bola!
Ballast Point Sculpin IPA: da Ballast Point, com 7% ABV. Mega lupulada, sendo amarga na medida. Floral, muito aromática e acaba sendo leve. Muito, muito boa!
Moylan´s Ryan Sullivan´s Imperial Stout: da Moylan´s também. Russian Imperial Stout, com 10% ABV. Paladar e aroma de café verde – ou seja, tostado junto com azedinho. Também com uma surpreendente espuma vermelha! (É lindo demais…)
Shipyard XXXX IPA: obviamente da Shipyard. American Double / Imperial IPA, com 9,2% ABV. Com lúpulo na medida e um adocicado final diferente. Suave para uma IPA. Excepcional!
Epic Hopulent IPA: da Epic. 8,3% ABV. A última cerveja que degustamos. Com um lúpulo mais adocicado (ou estaríamos nós já alterados?). Aroma de bala e no sabor, isso se repete (malte). Muito boa!
E as fotos finais (até que enfim!):
Olha… Ainda bem que a gente não perdeu este evento, viu!? Memorável!